Estava consumado: tomara a pílula para se esquecer da vida que tinha.
O alívio fora rápido e os sinais exteriores evidentes. Apesar de químico, um sorriso sempre era um sorriso.
Poucos se podiam gabar do que tinha alcançado com o tratamento, todavia, certos lapsos de memória recentes apoderavam-se dele com crescente regularidade.
Os sinais eram claros e só ele não os vira. A sobredosagem provocara uma ausência de si próprio a tal ponto que já mal aparecia reflectido no espelho.
Num último momento de lucidez gritou para que lhe permitissem optar pela eutanásia, mas a única resposta que obteve foi que o aperfeiçoamento pessoal era um bem demasiado precioso para se perder com devaneios de identidade privada.
Apesar de sorridente para o resto da vida, tornara-se completamente invisível ao espelho, e, misturado entre os outros, nunca mais ninguém o viu.
©ND/2007
22 março 2007
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