A mãe ciclope e o pai ciclope faziam de tudo para o fazer feliz, mas a verdade é que, do alto da sua casa ao fundo da rua das amoreiras que não davam amoras, o rapaz ciclope limitava-se a olhar os outros rapazes com um olho fechado, percebendo que nunca seria feliz.
Não era fácil ser-se um rapaz ciclope quando se tinha dois olhos, mas pelo menos não o podiam acusar de falta de visão quando, apesar de todo o encorajamento, se recusava a sair.
Garfos, grampos, limas e agulhas em brasa. Experimentou de tudo para vazar um dos olhos, só que este acabava sempre por reaparecer tão misteriosamente como as amoras tinham desaparecido.
"Pai, achas que algum dia vou ver só com um olho como os outros rapazes ciclope?" - perguntou.
O pai, porque era pai, ciclope ou não, respondeu-lhe que sim. Que sim e que nesse dia comemorariam com amoras recém colhidas das amoreiras da sua rua.
© Nuno Duarte 2008
Ilustração: Pepedelrey em dia de aniversário.
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