07 dezembro 2011

O ás

Sentiu a patanisca de bacalhau a queimar-lhe a língua enquanto cobiçava a mulher do próximo.
Assustado, ponderou a possibilidade da existência de Deuses e Diabos, mas o decote acentuado e a basculância  das glândulas que semi-revelava, trouxeram-no de volta a terrenos bem mais fundados.
Ganhando coragem, entre dois copos de carrascão e o fado arranhado por uma garganta esganiçada, arrastou um "E se nós..." para a dita cuja encantada.
Para azar dos azares, este foi o preciso momento em que a música se findou nos dedos dos velhos tocadores, sequiosos também eles pelo dito carrascão, e foi aí que começou a confusão...
Entre zás e catrapás, muitas foram as lambadas colhidas pelo nosso ás.
Do marido à fadista, passando pelo ferreiro e pela modista, todos lhe foram às trombas, todos o chutaram por trás.

Hoje anda mais calmo e com modos decentes, nem que seja pelo facto de ter de mastigar a patanisca sem o auxílio de dentes.

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